As festas do Natal prolongavam-se do dia de Natal ao dia de Reis. Vivia-se em contínua festa. Pelo Natal, celebrava-se a Noite da “Calhandra”, a Missa da Meia Noite, largamente concorrida, a consoada, as Visitas ao Menino, em seu trono armado em quase todas as residências e enfeitado com pratinhos de trigo verdejantes posto de molho no dia de Santa Luzia. Os ranchos do Natal percorriam as habitações das pessoas conhecidas e não só, a dar as Boas Festas, até que, no dia 6 de Janeiro, os grupos dos Reis Magos apareciam a visitar os presépios ou altarinhos, a cantar os cânticos próprios do dia, ou as Boas Festas do Natal. E tudo era aguardado com alegria.
Nas vésperas do Natal compravam-se as prendas que se “escondiam” em lugar recôndito para que os destinatários não as descobrissem antes do momento próprio à sua distribuição sempre aguardada com surpresa e alegria.
E falava-se do Natal com entusiasmo e alegria. Mas isso foi em tempos passados, que hoje... hoje pouco se fala na grandiosa festa, festa religiosa e festa da família.
Os estabelecimentos comerciais, semanas antes iniciaram, embora “a medo”, a exposição dos artigos destinados às prendas do Natal: os brinquedos para os miúdos, os utilitários para os adultos. Mas isso foi ontem... Hoje as bolsas estão praticamente vazias, e o que resta da minguada jornada, mal dá para o tradicional jantar melhorado da família, quando não são as iniciativas de solidariedade a substitui-lo.
Uma tristeza, dizem alguns e não poucos, porque, por cá, a crise nacional e mundial também se faz sentir. E ninguém é capaz de lhe suster o avanço desenfreado…
Recordar o Natal de outros tempos é, por vezes, provocar uma angústia dolorosa. É querer repetir esses dias alegres que se passavam em família e quase não puder. E isto até quando?
E quem são os responsáveis por tamanhas penúrias da grande ou quase totalidade das populações ?
Sim, da quase totalidade porque fica ainda de fora uma boa parcela daqueles que não sentem a crise e até vão cada vez mais engrossando as maquias...
Tratando-se, como comprovadamente se trata, de manter a estabilidade social e económica, importa promover as acções indispensáveis para que o erário público seja provido dos meios necessários e indispensáveis à debelação da crise, sem atingir aqueles que maiores vítimas são dessa calamidade pública. E o tempo urge!
Chegou o momento de se tomarem as medidas adequadas e indispensáveis para que a crise se ultrapasse e se extinga de uma vez por todas.
Manter o sistema que está em prática é nocivo e atinge a quase totalidade das pessoas, inclusivamente daquelas que são vítimas da crise e que, antes, deviam ser as beneficiadas. E ficam de fora, quase, os que, à custa da pobreza de milhões vão atulhando, desalmadamente, os cofres privados onde, parece, ninguém tem a coragem de mexer.
O Natal chegou, alegre e festivo para uma escassa minoria das populações, enquanto os outros vão sofrendo os males da crise que é pobreza e miséria para tantos cidadãos indefesos.
O Menino Jesus nasceu de novo, pobre e quase ignorado, na gruta de Belém. Sem agasalhos, sem berço e sem um quarto confortável. Festejam-nO num presépio, que é uma carcomida manjedoura de animais a servir-Lhe de berço. Uns panos gastos e pobres são o Seu enxoval. Mas, mesmo assim, não Lhe faltam os cantares dos Anjos que O acompanham para anunciar à humanidade que nasceu o Redentor.
E os Anjos, tal como há dois mil e treze anos, cantam ainda:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”
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